Um furacão com nome e sobrenome: Sidney Charles. Entrevista exclusiva

Por: Alan Medeiros

A vivência em diferentes cidades pode contribuir muito para a formação de um artista. Foram através de residências em Hamburgo, Londres e Berlim que Sidney Charles adquiriu nível suficiente para impressionar a comunidade da dance music mundial ao debutar em 2013 no top 100 do Resident Advisor, sem grandes números até então.

Seu estilo de som nas pistas é intenso e pode ser comparado ao de um furacão. Quis então o destino que “Hurricane” fosse um de seus sobrenomes e que sua identidade sonora fosse construída em cima de uma linha tênue e flexível entre o house e o techno. Sútil, mas resistente como a de um prédio construído para receber catástrofes naturais.

O que chama mais atenção no trabalho desse jovem artista alemão é a identidade que ele foi capaz de construir através de seus lançamentos, entregues a labels presentes no hall das principais marcas de música eletrônica da Europa. Estamos falando de gravadoras como True Soul, Avotre, Hot Creations e Moda Viva, marcas com histórico de parcerias com artistas de ponta ao longo dos últimos anos.

Uma experiência importante no DJing veio através da última temporada de verão em Ibiza, onde ao lado de Santé e Darius Syrossian, Sidney assinou a Do Not Sleep, na lendária Space Ibiza. Em janeiro desse ano, ele teve sua primeira tour no Brasil, passando por Terraza em Floripa e Sirena em Maresias. Essa semana ele retorna para uma apresentação única no festival da Tribe, em um line up com grandes nomes como Carl Craig, Frankley & Sandrino, Marcel Dettmann, wAFF e outros. Antes disso, você confere uma entrevista exclusiva com o “hurricane guy” Sidney Charles aqui na House Mag.
 

 

HOUSE MAG – Olá, Sidney! Obrigado por falar conosco. Em janeiro desse ano você teve sua primeira tour no Brasil e agora retorna para uma nova viagem. Quais são as suas expectativas para esse retorno?

SIDNEY CHARLES – O prazer é meu! Bem, depois da minha primeira tour no Brasil eu voltei para a Europa com grandes memórias. Minha experiência foi muito especial e foi ótimo levar meu som para tantas pessoas no seu país. As gigs em Florianópolis e Maresias tiveram algo muito singular, além de uma relação muito boa dos clubs com a multidão. Estou realmente animado para essa volta. Dessa vez eu toco em um grande palco de festival e será uma vibe diferente da primeira vez, quando toquei em clubs.


HM – Recentemente, você gravou um Essential Mix ao lado de Santé. O que representa para a carreira de um DJ, estar em um dos mais famosos radioshows do mundo? Como foi o processo de preparação do set?

SIDNEY – Foi uma grande honra ter essa oportunidade. Os DJs que participam do programa são muito desenvolvidos, com uma carreira de sucesso. Por isso, é ótimo ver que estou construindo um trabalho a este nível.

Eu acho que desenvolver algo capaz de capturar a atenção da Radio 1 foi um grande passo na minha carreira. Este mix tem um número alto de ouvintes, capazes de ouvir e dar uma crítica honesta. A preparação fluiu naturalmente, até encontrar a ordem certa das faixas. Como era um b2b com Santé, tivemos que encontrar o meio termo ideal entre nossos estilos e gêneros. Nós temos um gosto musical muito parecido, por isso não foi muito difícil decidir o que queríamos colocar no mix. Também colocamos algumas faixas especiais, que preparamos para o set. Usamos vinil que não serão lançados em formato digital e buscamos versões que não podem ser encontradas para compra ou em plataformas de streaming. Depois disso tudo, gravamos o set com 2 CDJs e 1 toca-disco até chegarmos no som certo. 
 

 
HM – Desde que você atingiu um bom nível de reconhecimento com o seu trabalho, virou rotina tocar em países diferentes fim de semana após fim de semana. Há algum lugar no mundo onde você enxerga que sua linha de som é mais bem recebida ou todas as pistas são relativamente parecidas?

SIDNEY – Cada país possui uma cultura diferente, com hábitos diferentes e uma maneira peculiar de reagir a música. Então, eu acho que a maioria das pistas que eu toco está tendo uma forma semelhante de sentir a música, mas expressam isso de uma forma diferente. Na Itália e no Reino Unido o público está manifestando isso de uma maneira muito clara e aberta, posso dizer o mesmo de países como Brasil e Argentina. Essas pessoas possuem o ritmo no sangue e gostam de mexer seus corpos de uma maneira mais “extrema”. Dessa forma, eles são sempre muito receptivos à música e mostram sua admiração para com os artistas. Isso me motiva muito!


HM – Nós sabemos que as cenas house e techno são muito desenvolvidas na Alemanha. Qual a principal diferença que você sente em relação ao público de seu país natal e ao restante do mundo?

SIDNEY – Na Alemanha o techno é mais desenvolvido que o house e é possível dizer que os alemães apreciam um lado mais “difícil” da música eletrônica. Por outro lado, há um grande apreço por after-parties com house music em clubs que possuem licença de 24 horas. A audiência na Alemanha é realmente mais crítica e o público possui conhecimento sobre a música e seus estilos. Isso às vezes faz com que as pessoas escutem música com o ouvido crítico e não com o coração aberto. No entanto, o país é um dos epicentros da música eletrônica porque as festas são longas, intensas e sempre há algo divertido por aqui.


HM – Truesoul, Avotre, Hot Creations, Snatch! Records, Moda Black e DFTD são algumas das excelentes gravadoras que você já trabalhou. Qual a importância de trabalhar com labels de renome no cenário internacional?

SIDNEY – Há tantos labels no mercado atualmente que eu acho que antes de tudo você precisa encontrar a marca certa para o som certo de suas produções. Simplesmente por que esses labels tem o direito de seguir seus próprios estilos e é isso o que os torna tão bem sucedidos.

É muito importante trabalhar com uma gravadora que leva sua música a sério e faz um grande esforço para apoiar e promover os seus releases. Eu acho que a pior coisa que pode acontecer é colocar faixas no mercado como uma máquina de produção, sem se preocupar com a qualidade.

A comunicação entre mim e o selo também deve estar fluindo bem e os prazos precisam ser levados muito a sério.

 
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HM – Como você define seu som?

SIDNEY – É sujo. Jackin house enérgico!


HM – Se você pudesse escolher um DJ para fazer um b2b e um produtor para uma collab, quais seriam os escolhidos? Por que?

SIDNEY – Eu adoraria produzir uma collab com Chris Carrier, ele é um dos meu produtores preferidos de todos os tempos. Se eu pudesse tocar um b2b com Cassy ficaria muito feliz, ela possui coisas que soam muito surpreendentes e é muito habilidosa.


HM – Para encerrar, uma pergunta pessoal. Aonde você se imagina daqui a 15 anos? Fazendo música e vivendo disso ainda? Obrigado por falar conosco!

SIDNEY – Eu me vejo ativo na cena daqui a 15 anos. Amo meu trabalho e sou muito feliz por ver tantas pessoas felizes com a minha música. Estou muito otimista com meu futuro e espero manter isso até chegar a mais pessoas no mundo todo. Talvez em algum momento eu não possa mais ser um DJ, mas vou sempre ser uma parte ativa na cena de alguma forma.

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