Por: Flávio Lerner
Essa última sexta-feira, dia 29, marcou uma data histórica pra música eletrônica de pista: completaram-se dez anos da estreia da lendária performance da pirâmide do Daft Punk no Coachella. O show foi realmente revolucionário, introduzindo pela primeira vez o fator “superprodução multimilionária” — a partir de um palco especial construído na forma de pirâmide, com alta ênfase pra questão visual — em um live de dance music. O conterrâneo Jean Michel Jarre, um dos pioneiros da música eletrônica pop e grande influência para a dupla, foi também um dos responsáveis por introduzir espetáculios eletrônicos ao ao livre a base de efeitos de laser e pirotecnia. Ele forneceu a base e o Daft Punk levou tudo a um outro nível dentro do mainstream.
Foi graças a esse pontapé inicial dos robôs franceses que a EDM veio a se consolidar no formato atual, de megaespetáculo. O festival, em 2006, certamente recebia bem menos atrações eletrônicas do que recebeu neste ano, e o Daft Punk teve papel crucial nisso. Contudo, as pirotecnias para os olhos não eram as protagonistas, ao menos não sozinhas. A música, como naturalmente tem de ser, seguiu como atração principal; o duo tinha recém-lançado seu terceiro álbum, Human After All — seu LP menos aclamado até hoje —, e surpreendeu com um live épico em que sampleava ao vivo todas as suas músicas lançadas à época, condensando-as em mashups inéditos, que levaram geral ao delírio.
Sabia-se que estava por vir uma apresentação marcante, tanto que a produção do Coachella conseguiu projetar a música para fora do palco Sahara Tent, onde a dupla armou sua primeira pirâmide. Mesmo assim, com capacidade pra dez mil pessoas, cerca de 40 mil se espremeram pra não perder aquela oportunidade única na vida — talvez, se fosse possível realmente dimensionar o impacto que a performance teria, um palco maior poderia ter sido reservado.
Se você não foi um dos 40 mil sortudos, resta se contentar com essa montagem caseira do show na íntegra, ou com o fantástico álbum “Alive”, de 2007, lançado um ano depois da apresentação histórica no Coachella, que se transformou em turnê e em um dos discos mais incríveis já lançados pelo Daft Punk. Obviamente não é a mesma coisa que ter presenciado in loco, mas já dá pra ter uma noção do impacto.
É possível conferir mais detalhes dos bastidores dessa apresentação no documentário “Daft Punk Unchained”, que traz muitas curiosidades internas e desvenda um pouco da mitologia da dupla.