Review: A festa Mamba Negra e sua edição Kolokda com Andrea Ferlin

Por: Tiliana Martins

É uma honra poder fazer o review de uma das edições da Mamba Negra. Tenho muito respeito, não só pela festa, mas pelo movimento iniciado por um time de mulheres que, com participação ativa e reverente, conquistaram não só o respeito do seu público, mas um espaço na cena underground nacional.

A edição Mamba Negra Kolokda, que eu visitei, rolou no dia 12 de março, conduzindo os artistas e público até a Rua Deocleciana, 105, que é atualmente um dos endereços mais falados e explorados pelas festas itinerantes de São Paulo. Ao entrar na Funilaria, nos deparamos com dois pátios intimistas, cujas paredes são inteiramente abraçadas por grafites e frases impactantes que geram uma euforia inexplicável aos olhos de quem os vê.

Alguns colchões jogados pelo chão foram o aconchego de uns e outros, enquanto podíamos ver também a intervenção artística de corpos nus ao redor. Para alguns, uma forma de protesto aos problemas sociais e para outros, apenas diversão.

Entre 00h e 3h, os residentes EXZ e Save the Cosmos se apresentaram individualmente, esquentando a pista para a idealizadora da festa, Carol Shutzer (Cashu). Eu cheguei por volta das 2h30, pegando o final do live do Save the Cosmos, em tempo de conectar com as pessoas, com amigos, entrar no clima da festa e do ambiente.

Em seguida, a Cashu assumiu o comando. A mudança foi um pouco brusca, visto que a proposta do Save The Cosmos é mais experimental. O set da Cashu seguiu a linha do techno que explorou a melodia acima do groove, enquanto o equilíbrio entre estes elementos seria o mundo ideal para que o headliner Andrea Ferlin se sentisse mais a vontade em decidir o que ele iria tocar. Ao usar a melodia demasiadamente, o set acabou evoluindo para algo mais forte ainda, o que o “obrigou” a seguir com um som que fosse, no mínimo, tão intenso quanto ao que ela tocou. Ao final, eu tive a impressão de que faltou nitidez. Porém, ela agradou o público fiel, que em grande maioria é mais consumidor de festa e, talvez, sejam um pouco menos exigentes com o som.

O Italiano Andrea tem uma bagagem musical gigante e imprevisível! À princípio, eu estava na dúvida sobre o que ele iria tocar, qual linha ele iria seguir. Ele começou a sua carreira de DJ na época em que a house music era extremamente significante. Depois de um tempo, ele se apaixonou pela acid e, posteriormente, iniciou suas gigs com grandes nomes do techno. Além disso, as características minimalistas são extremamente presentes nos seus sets.

Ele chegou cedo à festa, absorveu a energia da pista, ouviu o som que estava antecedendo o seu. Ele literalmente estudou o ambiente para que a transição fosse feita da melhor forma possível. Durante a primeira hora de set, foi possível sentir os ajustes que estavam sendo feitos ali, em cima daquele set up. A inserção do áudio via disco é algo incrível, que sempre soa muito bem aos meus ouvidos.

Ao total, foram mais de cinco horas de set em vinyl. Por algumas vezes, troquei olhares com os meus amigos que expressavam surpresa, orgulho e satisfação em ouvir um som tão limpo, harmonioso! Foi uma aula que provou que um set de techno pode ser forte e dinâmico, dançante e, ao mesmo tempo, pensante!

Em diversos momentos o Andrea mostrou seu amplo e complexo gosto musical, o que com certeza agradou os ouvidos mais exigentes presentes na festa, concretizando o melhor set que eu já ouvi na Mamba Negra.

De modo geral, a Mamba é uma ótima representação do movimento comportamental e sonoro, livre de pré-conceitos, e que tem potencial para evoluir constantemente.

Fique por dentro