Artistas brasileiros falam sobre a presença do drum and bass no festival Tomorrowland


Por: Lucas Portilho de Faria Cunha

Pelo segundo ano consecutivo o Tomorrowland Brasil, um dos eventos mais relevantes para a indústria da música eletrônica internacional (e cada vez mais se mostrando da cena nacional também), irá propor um palco dedicado ao drum and bass. Neste ano, os fãs do gênero eletrônico assistirão de perto o trabalho dos brasileiros: Andrezz & L-Side, DJ Patife, DJ Marky e DJ Andy. Os estrangeiros MC Stamina, DJ Hype e One87 são os responsáveis por completar o line-up do palco “Marky and Friends”.

Os produtores de música eletrônica Andrezz & L-Side, Alibi (Level 2 e DJ Chap), Simplification, DJ Rusty (Promo Audio) e Urbandawn (Hospital Records) conversaram com a gente sobre a representatividade do gênero no festival. Para os artistas nacionais que compõem o line-up, perguntamos: as expectativas para a edição deste ano; a importância do MC para as apresentações de drum and bass; a ascensão dos artistas brasileiros no exterior; a associação do gênero ao universo underground e a importância das rádios para o cenário do drum and bass nacional. Tudo isso foi tratado ao longo do bate-papo.

Felipe Wrechiski – ou Urbandawn (como é conhecido no cenário do DNB) – afirma que o festival é muito importante para a cena brasileira por priorizar artistas nacionais. Inclusive, por ser um evento de repercussão internacional, as chances dos artistas brasileiros alcançarem line-ups de casas e eventos no exterior é muito maior. Rusty, Alibi, Andrezz e L-Side concordam que o evento será pertinente para o desenvolvimento do cenário nacional, porém, Simplification vai além, considerando que os artistas nacionais têm impactado a mídia ao utilizarem a moda antiga para produzir os seus sets. “DJ de verdade faz suas mixagens com vinis, não com uma tecnologia que faz 90% do serviço”, opina.

De acordo com Level 2 e DJ Chap, as atrações internacionais desta edição do Tomorrowland Brasil estão impecáveis. Segundo Pedro Lima (Level 2), “DJ Hype dispensa comentários. Na última passagem pelo Brasil, o artista ‘aniquilou’ a pista. MC Stamina e DJ Marky são como Batman e Robin, e a parceria dos dois durante o Sun and Bass, no ano passado, foi uma experiência sensacional. One87, curador do palco Star Wartz no Tomorrowland Bélgica, sempre toca novidades, além de possuir uma técnica musical excelente”, explica.

Andrezz & L-Side contam que MC Stamina possui uma relevância importante para  drum and bass nacional, pois “ele é o responsável pelos vocais de um dos clássicos do gênero: a faixa ‘LK’ do DJ Marky & XRS”. Os artistas ainda comentam que DJ Hype deve ser considerado como um dos percursores da cena jungle/drum and bass internacional. Dono de uma das maiores gravadoras do estilo eletrônico, a “Playaz Records”, “o artista também possui uma técnica como deejay que é impecável”, explica a dupla que será responsável por abrir o palco “Makry and Friends” no dia 23, sábado. Sobre as expectativas de tocar na edição brasileira do Tomorrowland, Andrezz e L-Side contam que estão muito ansiosos: “pois o festival é extremamente importante para o Brasil e para o mundo. Esperamos poder tocar muitas músicas produzidas por brasileiros, além de fazer o público dançar ao nosso som”, admite a dupla rindo.

Para alguns artistas, a presença de um MC durante um set de drum and bass é opcional, para outros, é uma obrigatoriedade. Urbandawn diz que muitas pessoas não gostam da figura do MC durante os sets de alguns deejays. No entanto, “MC`s como o Stamina sabem se portar em diversos tipos de situações, tornando-se, assim, essenciais na construção e no desenvolvimento de uma apresentação”, conta. DJ Rusty também acredita que o acompanhamento de um MC durante as apresentações é fundamental, desde que o cantor conheça o seu papel no palco.

Ao observarmos as mídias especializadas na cobertura do drum and bass nacional e internacional – como, por exemplo, o Drumnbass.com.br e o Drum and Bass Arena – podemos constatar que a presença dos artistas brasileiros nestes canais é frequente. Uma evidência disto pode ser observada da seguinte forma: recentemente, a dupla Alibi foi tema de diversas entrevistas e matérias publicadas nos mais diversos sites ao redor do globo. Provavelmente, o destaque vai para o convite de um dos maiores e melhores festivais dedicados ao drum and bass do mundo, o Sun and Bass, para a gravação e a publicação de um podcast. “Desde 2010 estamos passando por um momento especial. Onde artistas do munto todo estão se interessando pelo trabalho que fazemos por aqui. Isto vem crescendo gradativamente, fruto de um trabalho assertivo que boa parte dos artistas brasileiros veem fazendo”, explica Level 2.

Com o intuito de frisar o fato de que cada vez mais artistas estão participando do contexto global do drum and bass, DJ Chap atualmente está realizando uma turnê pela Europa. Urbandawn, que assinou exclusividade para o gigante Hospital Records, Crytical Dub, também está realizando uma turnê internacional. L-Side está para tocar em Dubai, Level 2 foi convidado para representar o drum and bass nacional – ao lado do brasileiro S.P.Y. – no line-up da tenda Star Wartz no Tomorrowland Bélgica. Simplification lembra que há um tempo que este fenômeno tem ocorrido. Uma evidência deste acontecimento, é os sucessórios convites do Sun and Bass para que artistas brasileiros se apresentem no festival anual. DJ Rusty conta que existe uma explicação bem simples para este fenômeno: o trabalho. Dono da gravadora Promo Audio, o artista acredita que o produtor ou o deejay deve correr atrás “do prejuízo” sem considerar a existência de alguém para te  auxiliar. DJ Chap já acredita que “ao mesmo tempo que uma porta se abre, a mesma  permanece aberta para os demais. Um vem puxando o outro,” aponta.

O drum and bass pode ser considerado um gênero underground no cenário atual da música eletrônica brasileira. Ao serem questionados se o estilo tem a possibilidade de se tornar mais popular em nosso país através do festival Tomorrowland, Alibi afirma que o gênero sempre esteve presente nos grandes festivais do Brasil: Spirit Of London, Skol Beats, EDC Festival e o próprio Tomorrowland são prova disto. DJ Chap acredita que nunca deixou de existir drum and bass no país. “Talvez o problema não seja a falta de ‘popularidade’, mas sim a falta de investimento em canais de mídia”, observa.

Andrezz & L-Side destacam que “um estilo como o drum and bass não é tão acessível como pensamos que é, porém sempre existiu um público fiel ao som que amamos”, conta. Em contrapartida, DJ Rusty acredita que mesmo com a presença do durm and bass no line-up do Tomorrowland, o gênero eletrônico permanecerá “debaixo do solo”: “já tivemos o drum and bass em outros festivais e, mesmo assim, não observei muita diferença no cenário. A luta para que os organizadores de festas levem mais pessoas para as noites [de drum and bass] continuam da mesma forma: difícil. Porém, os eventos não deixam de agregar de alguma forma, pois quem nunca ouviu o gênero, pode ter a chance de ouvir pela primeira vez”, explica.

No Brasil, a única rádio que possui na sua grade um programa dedicado ao drum and bass é a Energia FM (São Paulo). Segundo Simplification, antigamente, os episódios possuíam cinco horas de duração distribuídas em quatro dias da semana – no domingo, o programa era apresentado durante duas horas. Atualmente, o “Terremoto”, apresentado pelo DJ Marky, possui apenas 45 minutos. “Mas acho que não perdemos o público, apenas fidelizamos os que realmente se identificam com o estilo”, observa o produtor e deejay.

No exterior, rádios como BBC 1, BBC 1X, Rinse FM e Kiss FM possuem programas dedicados ao drum and bass ou possuem faixas na programação. Level 2 afirma que “além de possuírem um espaço dedicado ao D&B, eles tocam músicas nossas também. Em 2012 tivemos participações em rádios britânicas como BBC Rádio 1Xtra e Ministry Of Sound. Em 2014 a BBC entrou em contato conosco e novamente recebemos o convite para fazer minimixes pela Copa do Mundo aqui no Brasil. Urbandawn fez um set exclusivo na BBC Radio 1 no programa do MistaJam, depois na Rinse FM. Recentemente fizemos um mix para o lançamento do CD Planet V D&B Volume 2 no programa do DJ Hype na Kiss FM. Aqui no Brasil, tirando o programa ‘terremoto’ na Energia, não temos nenhuma outra emissora que toque D&B, e isso nem me surpreende… aprendemos a ser independentes e não esperar nada de ninguém com relação a isto. Óbvio que se tivéssemos músicas na programação de rádios por aqui, igual acontece lá fora, seria bem melhor. Mas vamos manter os pés no chão não é? Tem espaço pra todos no cenário”.

Urbandawn destaca que existem pessoas engajadas em web rádios dedicadas ao gênero musical no Brasil e ainda completa dizendo que “talvez, se tivéssemos mais espaço nas rádios FM, o estilo estaria mais presente nos festivais”, diz. Insatisfeito com a falta da presença do drum and bass nas emissoras, DJ Rusty afirma que “devemos agradecer a existência dos 45 minutos semanais de DNB [na Rádio Energia FM]”, e complementa: “se houvesse mais programas dedicados, ou até mesmo faixas tocando ao longo da programação, teríamos mais pessoas buscando por eventos. Assim, tudo funcionaria como funcionava entre os anos 2002 e 2005”, encerra.

           

           

           

           

           

 

 

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